quinta-feira, janeiro 24, 2008

em torno de 1968

Estamos neste ano de celebrações as mais diversas. São muitas as efemérides que servem para nos atualizar da caminhada da humanidade, especialmente dessa humanidade que se entende a partir da experiência européia. Enquanto os cariocas e baianos se enlevam por terem sido regiões pisadas pelos augustos pés de sua majestade portuguesa e entourage, os pernambucanos estão à espreita de 1817, para então festejar os seus heróis traídos, mas que questionaram tantos favores devotados às províncias do sul da colônia portuguesa.

A mais celebrada lembrança é a de maio de 1968, ou mesmo todo o ano de 1968. Parece que ainda precisamos entender o que ocorreu nas ruas de Paris, de Praga, da cidade do México, dos Estados Unidos e até mesmo do Rio de Janeiro. Os acontecimentos de 1968 geraram perplexidade em muitas camadas sociais.

Em um dos locais sociais estavam aqueles felizes por terem superado os limites da atmosfera desde outubro de 1957, quando Yuri Gagarin ficou em órbita terrestre no Sputinik, uma nave espacial com o belo nome – Amigo, Companheiro. As proezas do astronauta russo não foram vistas como símbolo de amizade pelos estadunidenses que viram, no sideral passeio soviético, uma provocação. De imediato o presidente Kennedy promoveu uma revolução no sitema educacional americano objetivando passear na lua antes dos soviéticos para mostrar a superioridade do jeito americano de viver. A corrida espacial que se iniciou pode ter sido um dos motivos do esgotamento dos limites da sociedade moderna. A corrida espacial teria esgotado as possibilidades econômicas do modelo soviético, já bastante deformado pelas deformações morais do estalinismo, mas também teria esgotado as possibilidades humanistas da sociedade ocidental. Os acontecimentos espaciais de 1957 apontaram para a superação do “ocidente”.

De outro lado, em 1968, estavam aqueles que não entendiam as razões de continuarem a existir tantos sofrimentos na terras enquanto ocorria a corrida espacial. Entre 1957 e 1968 a Guerra de Independência do Vietnan se tornara uma guerra “dos mundos”, e uma geração não mais queria a guerra, pois outras possibilidades se apresentavam. O amor seduzia tanto quanto a morte. Os governantes, aliados a alguns cientistas, queriam saber se havia vida fora da terra, ao mesmo tempo em que as guerras indicavam a tendência de por fim à vida na terra. Uma geração não concordava com essa maneira de viver. O modelo moderno estava sendo posto em dúvida, embora não se desejasse abrir mão de suas vantagens materiais. Buscava-se um novo humanismo, uma nova maneira de ver os homens, ou melhor, novas maneiras de ver os homens e as mulheres. 1968 apontava para a compreensão de que não mais se queria vver comprimido entre dois modelos, desejava-se mais alternativas, mais escolhas. Quarenta anos depois desejamos saber se construímos um novo humanismo ou se estamos perdidos, ainda, após a constatação material de que a terra era azul e que Gagarim não havia encontrado Deus no azul do céu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belissímo texto!!!
A cada dia estamos construindo um novo humanismo, pois a cada dia surgem novos valores.

Abraço.

Anônimo disse...

Belissímo texto!!!
A cada dia estamos construindo um novo humanismo, pois a cada dia surgem novos valores.

Abraço.