sexta-feira, janeiro 25, 2008

O Céu ou as Urnas

Nos tempos de carnaval há sempre a recordação da quaresma, como em famoso quadro de Bosch. A festa da carne, o momento em que o mundo fica de ponta cabeça, é um instante em que a normalidade da vida social cede espaço para as desinibições, para a reinvenção da vida, a crítica dos valores e costumes. O processo de cristianização europeu sempre conviveu com o carnaval. Os cristãos puseram-se contra os prazeres da carne. Conta-se que Santo Agostinho passou os dias de carnaval pregando para a sua congregação, procurando evitar que algum dos membros caísse na tentação da folia, da loucura, se tornasse um folião. Ou seja, para Santo Agostinho carnaval não era coisa para os cristãos. Assim era antes que se formasse a grande cristandade e tivesse início a grande confusão entre poder político e poder religioso.

Neste carnaval o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso resolveu excomungar as pessoas que estejam favorecendo o festival da carne, distribuindo a pílula do dia seguinte, entre eles o atual prefeito do Recife, João Paulo. O Prefeito iniciou a sua vida política como militante católico. Excomungar significa colocar fora da comunhão eclesiástica aquele cristão católico que não se coadunar às normas da Igreja. Caso o Prefeito ainda seja católico, não poderá mais participar dos atos sacramentais da Igreja, exceto após o arrependimento, o que pode ser obtido mediante uma confissão sincera. Mas se o Prefeito não mais for católico, de nada adiantará a ameaça de excomunhão, pois não se pode expulsar quem já não mais está na comunidade. Seria mais prudente o arcebispo apenas ter lembrado aos católicos, melhor dizendo às católicas, que elas não devem tomar a pílula do dia seguinte, ou melhor, que não façam nada que produza a necessidade de utilizar a pílula que o prefeito está pondo à disposição das mulheres que fizerem as libações à Baco e Vênus. Por outro lado, a Igreja Católica sempre conviveu com o carnaval, permitindo que os que pecaram possam se arrepender, lembrando-lhes a sua origem e o seu futuro na Quarta Feira de Cinza, quando se inicia a Quaresma. A quaresma existe tanto para os foliões quanto para os que ficaram ouvindo Santo Agostinho de Hipona. Os que pecaram têm a possibilidade do arrependimento, no sacramento da confissão. Parece cinismo, mas é resultado do amor de Deus para coom suas criaturas. A misericórdia é parte da justiça divina.

Mas o Prefeito que cuida de todos resolveu comprar muitas pílulas de algum laboratório. Vai ver que algum laboratório ainda não conseguiu convencer as mulheres que essas tais pílulas do dia seguinte são mais seguras que as dos dias anteriores. A impressão que se tem é que algum laboratório convenceu o Prefeito.

A distribuição de pílulas do dia seguinte faz um imenso rombo na campanha de prevenção de Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Com a pílula na mão muita gente vai esquecer o preservativo plástico. O preservativo conhecido como camisinha, é aquele que, além de prevenir gravidez indesejada, previne as doenças do amor, mas também são indesejáveis. Parece que Secretaria de Saúde da Prefeitura da Cidade do Recife não tem muita ligação com o Ministério da Saúde do Brasil. Pensando apenas na gravidez indesejada, o Prefeito que cuida de todos (inclusive dos laboratórios produtores dessas pílulas para os desatentos ou apressados) está pondo em risco um programa dos mais bem sucedidos em todo o mundo.

Entendo que esta é a questão maior que deve ser posta pelos cidadãos, e não a excomunhão prometida por Dom José Cardoso. Durante a ditadura, alguns bispos tentaram excomungar torturadores, mas alguns deles já não eram católicos, como explicitou um dos delegados envolvidos no caso da morte do padre João Bosco Burnier. Com a oferta religiosa que está posta no mercado, com o fim das cristandades, os bispos, de qualquer igreja, influenciam apenas as suas igrejas, ou uma parte de seus seguidores, nem sempre tão fiéis. A excomunhão que o Prefeito teme é a das urnas.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu não entendi bem a sua crítica. O senhor crítica a atitude do prefeito Jõao Paulo ou ss ordenanças da igreja católica?
A atitude do prefeito está correta, ele não só deve permitir que a população tenha acesso a a preservativos, como também a pílula que é um componente da prevenção(acidentes infelizmente acontecem). A igreja católica de maneira autoritária e de posicionamento divino, está tendo o mesmo comportamento do período medieval, indo de desencontro com a ciência, a pílula não provoca o aborto como a igreja afirma, a ciência já comprovou. O fato de haver a distribuição da pílula para a população não quer dizer, que os indivíduos não se preocuparão em usar preservativos. As propagandas educacionais estão presentes no nosso dia a dia, não vai ser uma pílula que vai fazer com que a população deixem de se previnir.

Anônimo disse...

texto objetivo que contempla questões cruciais. É evidente que as pessoas vão acabar matendo relações sexuais sem o uso da caminha, por estarem ´´amparados´´ na ´´ segurança´´ das pilulas ! o que aumenta de forma considerável o risco de contaminações. e a questão da distribuição das pilulas, realmenre por acaso não ocorreu algum favorecimento a algum laboratorio ??

Anônimo disse...

oi marcos, pq achar que o uso da pílula trará segurança para as pessoas, a população não é burra, os indivíduos tem o pleno conhecimento da importância de preservativos como a camisinha , por exemplo, as propagandas educativas estão aí, infelizmente acidentes acontecem(como o mau uso da camisinha), ocasionando a grávidez indesejada. O governo faz a sua parte, não nos interessa quem vai beneficia-se, deve-se pensar primeiramente no bem estar da população.

Anônimo disse...

eu só não acredito que a população não é tão esclarecida como vc diz! eu sou contra a distribuição não por motivos religiosos, mas por acreditar na falta de conciencia.

Anônimo disse...

Eu entendo a sua opinião, mas o estado, a sociedade em si tem que confiar mais nos indivíduos, tem que passar a dar mais credibilidade , confiança e principalmente responsabilidade à população.