quarta-feira, julho 25, 2007

As consciências e seus dias no Brasil - consciência Brasileira

No dia de ontem tive duas revelações que me preocuparam, pois cada uma a seu modo, apresenta visões de Brasil ou de compreensão do que é o Brasil; e elas apontam para certas realidades insuspeitadas, embora bem que poderíamos estar mais atentos ao que estamos fazendo de nós mesmos. Foram duas informações, uma recebida através da rede internacional de informações e outra em sala de aula. Elas falam de etnias que vivem no Brasil e de como elas se aceitam e se percebem como parte do Brasil.

A primeira informação foi a primeira surpresa. Soube que no Rio Grande do Sul, região do Brasil conhecida por ser formada por descendentes de imigrantes alemães, italianos e outros grupos europeus que vieram para o Brasil no século XIX, está sendo estabelecido um dia da consciência alemã, no dia 25 de julho; nesse dia se comemora a chegada dos primeiros imigrantes naquela parte do Brasil.

Esse tem sido um processo a partir do estabelecimento do dia do imigrante. Mas, depois se viu que essa expressão pouco dizia, uma vez que os imigrantes têm origens e tradições culturais diversas. Alguns são italianos, outros alemães, outros de outro país europeu. Formam o que Darcy Ribeiro chamou de Povos Novos. Ao dia do Imigrante pôs-se o dia do Marceneiro e, agora, uma cidade estabeleceu que o dia 25 de julho deve ser um dia para que os descendentes dos imigrantes alemães reflitam sobre a sua cultura original.

Para mim que vivo no Nordeste, e para muitos brasileiros que, como eu, na escola não escutam falar seriamente sobre outra tradição européia além da portuguesa para a formação do povo brasileiro, essa é uma notícia que pode me fazer surpresa e, ao mesmo tempo favorecer a minha compreensão da diversidade cultural brasileira. Daí, dessa celebração, compreende-se que já é tempo de estudarmos todas as tradições culturais que formam o Brasil, e não apenas aquelas que foram definidas pelos historiadores do século XIX, em um tempo anterior à imigração européia decorrente da Revolução Industrial e da superação do trabalho escravo.

A segunda informação veio-me na sala de aula. Estávamos acompanhando a exposição de alguns alunos sobre a arte européia no século das Luzes. Na verdade quase era um estudo de como se formara uma tradição cultural dominante no Brasil, uma tradição que vem da França e de um pedaço da Alemanha, embora que tenha sido filtrada, especialmente para os que, como eu, mestiço nascido e criado no Nordeste, conviveram pouco com outra tradição européia além da portuguesa. Então fiz um comentário sobre a celebração que algumas cidades brasileiras de tradição alemã estão realizando no dia 25 de julho, tendo este como o dia da consciência alemã.

Ao ouvir o que acabara de pronunciar, um dos alunos perguntou o que “eles” estavam pensando. (ah! o ranço da intransigêcia de quem deseja a pluralidade parecida consigo mesmo!) Então eu disse que o processo que se passa na região sul é semelhante ao que levou à criação do dia da Consciência Negra. A justificativa que esses grupos apresentam para o estabelecimento dessas datas é se sentirem marginalizados da grande sociedade brasileira; pode ser que eles não se vêem representados nos livros didáticos que ensinam o que são os brasileiros; talvez ambos os grupos sentem-se excluídos nas explicações que são dadas para a formação do Brasil. Afinal continuamos a repetir muito o que foi estabelecido nos primeiros livros de História do Brasil sobre os grupos formadores do Brasil: portugueses, africanos e indígenas. Podemos até dizer que, em alguns momentos “Brasil” os excluiu. Um desses momentos foi o período do Estado Novo, quando os terreiros eram perseguidos e os idiomas alemão e italiano eram proibidos à população descendente dos imigrantes.

O meu desconhecimento do processo social, dos movimentos sócio-culturais que ocorrem nas terras de colonização alemã e italiana, como o de meus alunos, mostra que não assimilamos ainda a real diversidade cultural brasileira. Mostra também que o não reconhecimento das diversas matrizes culturais que carregamos (portuguesa, espanhola, bantu, keto, ioruba, japonês, coreano, tupi-guarani, caeté, italiana, alemã, polonesa, turca, judia, etc) pode nos levar a esquecer esses valores mais profundos e, desgraçadamente, nos fixarmos nas cores de nossa pele, fazendo a alegria dos seguidores do Conde de Gobineau.

Precisamos tomar cuidado com a focalização excessiva em apenas uma etnia formadora, somos vários, somos multicoloridos, multiculturais.

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