segunda-feira, julho 09, 2007

"Pizondo" na história

Os jornais deste dia me lembram que é o aniversário da cidade do Cabo de Santo Agostinho. Aniversários de cidades são ótimas oportunidades para verificarmos os usos que se fazem da história. Afinal, a história enquanto ciência, forjou-se no século em que se forjaram as nações europeías. As nações que nasceram da expansão européia também fizeram e fazem a sua história, tomando a Europa como modelo.
Nos últimos anos a hsitoriografia brasileira está se esforçando para superar o eurocentrismo, essa doença cultural que nos domina, de tal forma que, vemos uma inovação no dia de hoje.
Está sendo lançada mais uma história de Pernambuco. Graças aos avanços da pesquisa não mais se diz A História de Pernambuco, mas apenas mais uma. Assim. desde metade do século XIX que a História de Pernambuco, contada a partir da História do Brasil orientada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, conta essa história a partir dos olares de Portugal. Desde algum tempo, um grupo de pernambucanos insatisfeitos com o tratamento que recebeu de Portugal após a Restauração e, também insatisfeitos pelo descaso dos Orleans e Bragança no Império, passaram a desejar ser uma Nova Holanda. Tem muita gente com saudade de ser batavo. Dias Gomes escreveu sobre uma viúva Porcina: a que foi sem nunca ter sido. (Só para lembrar: quando governou Pernambuco Maurício de Nassau ainda não tinha o titulo de Príncipe).
Esse desejo de ser o que não é, faz com que agora tenha uma parte de Pernambuco querendo ser espanhol, inclusive informando em propaganda oficial do Cabo de Santo Agostinho que Vicente Pizon passou cinco dias andando a pé naquele pedaço de terra.
Que prefeitos com compromisso mínimo com documentos digam isso, nós entendemos, é uma questão ideológica. Mas fica pesado quando historiadores arrancam do baú seus diplomas para afirmar o que é ideológico como "verdade" histórica. Fica difícil continuar aceitando a idéia que a história de nosso povo começou quando algum português ou espanhol colocou os olhos sobre essa terra, como se não houvesse viva alma, pessoas e culturas aqui antes da chegada dos europeus. Assim, ainda que sejam belas as fotos do caderno que vai contar a história de Pernambuco, é necessário que se explique que a história é feita por homens e mulheres e que havia homens e mulheres no Brasil antes de 1500. Aliás é isso que quer dizer a imagem de capa do fascículo posto á venda no dia de hoje.
Pizon esteve no litoral pernambucano antes de Cabral, mas Pizon não pisou nas terras que hoje se chama Cabo de Santo Agostinho.
Mas tem gente pisando na bola da história.

Nenhum comentário: