quinta-feira, agosto 09, 2007

Efemérides

As efemérides mudam com o tempo. Dizer uma efeméride é afirmar um modo de ver o mundo, uma maneira de afirmar um modo de viver, é confirmar projeto de vida e de sociedade. Como cada grupo social procura afirmar o seu jeito de agarrar-se à vida e modificá-la, a cada espaço de tempo as efemérides são cambiadas. É por isso que as datas mudan de importância ao longo de nossas vidas. Os câmbios indicam, ao lembrar ou esquecer o passado, o caminho que se está tomando para o futuro. As efemérides, podemos quase dizer, como Gilberto Freyre, são o encontro dos tempos.

Há efemérides que cultivam o tempo nacional, ou que querem afirmar um sentido de nacionalidade, como o que se estabeleceu, desde o século XIX, no processo de a formação desse modelo de nação celebrado pelos europeus, e que nós herdamos. O Sete de Setembro, para o caso brasileiro, foi sendo construído, e sua aceitação não ocorreu de maneira simples. Aqui em Pernambuco, parece que de começo havia grupos que preferiam o Sete de Abril. A escolha de um dos setes, foi a escolha de um projeto de sociedade que está sendo vivido até os dias de hoje. O crescente esquecimento do Seis de Agosto, o da bomba de Hiroshima, talvez seja a comprovação de que da cultura da morte tem crescido à medida que são feitos ocos discursos sobre o valor da vida.

Nossas vidas pessoais são carregadas de efemérides, de lembranças que nos afirmam e, portanto, se dispõem a negar uma porção de coisa e valores que nos incomodam. Lembramos o que nos satisfaz, o que nos mostra o quanto somos bons. Tereza, ecoava o que aprendera de um dos seus professores e, desse ecoar, me ensinou: a memória é alcoviteira dos desejos. Lembramos o que desejamos, construímos o passado que nos justifica, nos absolve, ainda que à custa da condenação de outros. Em cada pedaço de memória, está a construção de nossa bondade e, quem sabe, a maldade do outro. Sempre nos socorremos de nossas memórias para salvar nosso presente. Assim fazem as pessoas e os grupos.

Mas além da memória há a explicação que ela carrega. Quase sempre lembramos da maldade dos professores em nos colocar uma nota inferior àquela que nos daríamos; muito dificilmente nos lembramos da ação do professor em exercer a sua função de orientador sério, agindo para extender os nossos limites, esses limites que nossa preguiça os quer sempre pequenos. A escolha da efemérides dizem também o que nos recusamos de ser.

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