sexta-feira, dezembro 01, 2006

O candidato a Beato não é "beato", professora.

Começarei citando: ... esse foi o cenário propício para o surgimento de beatos como "padre Mestre Ibiapina", advogado que chegou a ingressar na carreira política do Ceará, mas por razões pessoais abandonou a toga e passou a peregrinar pelo Nordeste, sem que saibamos exatamente quando foi "ordenado". O fato é que chegou a proferir missa com a autorização das autoridades eclesiásticas de Sobral, fundou uma congregação religiosa de freiras, talvez a primeira da região, difundiu as primeiras instituições educacionais para mulheres e recebeu apoio até mesmo das elites do vale do Cariri, que admiravam as iniciativas do Beato."
O texto foi escrito por Jacqueline Hermann, faz parte do artigo Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado, parte de primeiro volume de O Brasil Republicano, uma série de quatro volumes, publicados pela Civilização Brasileira, no ano de 2003, organizado pelos professores Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado.
Com o devido respeito que temos para com os ilustres professores, especialmente, especialmente à professora Jacqueline Hermann, devemos alertar ao aluno que, neste trecho citado, parte de um parágrafo, está demonstrado um pouco do preconceito que se tem pela historiografia produzida no Nordeste. Uma pessoa que escreve sobre o padre Ibiapina deveria ter lido um livro publicado na década de cinquenta, por Mariz, sob o título Ibiapina, um apóstolo do Nordeste. Houvesse lido o livro, saberia que Ibiapina estudou no Seminário de Olinda e no Seminário da Madre de Deus, dos padres Oratorianos; saberia que depois formou-se em direito, advogou, foi deputado pelo Ceará e atuou na Corte, na comissão de finanças do Parlamento. Desenganado pela política voltou a dedicar-se à advocacia para os pobres no Recife e também desiludiu-se dessa atividade ao entender que os juízes e as leis fovoreciam os poderosos e donos da terra. Pasou a viver semieclausurado e foi convidado pelo bispo de Olinda para assumir o sacerdócio. Foi ordenado pelo bispo de Olinda e foi professor de História Eclesiástica no Seminário de Olinda. Depois pediu permissão e foi missionar nos sertões, onde atuou desde o Piauí até Pernambuco. Ele não era um "beato", como quer a professora que não lê o que é produzido no Nordeste (se bem que há nordestinos que não folheiam as páginas de seus conterrâneos e, por isso engolem as bobagens escritas no sul). Além desse clássico já citado, Jacqueline deveria ter conhecimento dos escritos de Eduardo Hoornaert - Ibiapina e a Igreja dos pobres - publicado pela Paulinas nos anos 80. bem como deveria saber que atualmente a diocese de Guarabira está postulando a beatificação do Padre Ibiapina.
Uma última informação para os leitores: Os beatos e as beatas do nordeste são decorrentes da atuação do padre Ibiapina.
Bem: devo dizer que, mesmo fazendo esses adendos e correções indico a leitura do texto da professora Jacqueline Hermannn. Eu mesmo já escrevi sobre o padre Ibiapina, em textos publicados pelas editoras Vozes e Paulinas, portanto de fácil acesso aos professores do Rio de Janeiro. Por fim, não devemos esquecer: quem vá discorrer sobre um tema deve fazer uma pesquisa para verificar o status quaestionis

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