domingo, novembro 04, 2007

Valores, tempos, circunstâncias

Como disse, há algum tempo, escrever um blog é como estar pondo o diário em público.Um diário é algo para ser intimo, enquanto um blog deveria ser público. Entretanto, nesse ano que passou percebo que o blog é algo íntimo, apesar da possibilidade de publicização. Não escutamos comentários sobre o que escrevemos, o que os permite a idéia de que ninguém acompanha o nosso pensamento e a nossa vida. Entretanto, ao escrever um blog, o que nós queremos é nos tornar uma personalidade publica, ainda que sem acesso à media comum a todos, media que todos lamentam, mas que dela não se afastam. E nem podem dela de afastar, pois ela, nas suas notícias fragmentadas, nos oferecem o mundo que vivemos e que desejamos que assim seja. Esse comentário inicial é para dizer que esse blog continua saindo com alguma freqüência porque o seu autor, como os de todos os blogs, acha que tem alguma contribuição a dar a alguma conversa de bar.

Bem que eu gostaria de não conversar sobre o terceiro mandato presidencial consecutivo, algo que não se imaginaria à época de pequeno burguês Juscelino Kubistchek, mas que tem espaço na era dos democratas e trabalhadores socialistas, liderados pelo ex-metalúrgico. Eles juram que não querem o terceiro mandato, mas ao mesmo tempo ficam descobrindo maneiras de fazer a sociedade discutir o que a sociedade não quer discutir até que a sociedade queira, não só discutir, mas queira o próprio objeto da discussão não desejada. Ser democrata, Para cerTos setores sociais, é auxiliar o povo descobrir o desejo que é deles como se fosse o desejo nosso. Todos sabemos que assim é se assim lhe parece.

Mas devo dizer que a vida surpreende, tanto quanto os políticos. Por conta de uma jovem ter caído de um pé de jambo no quintal de minha casa, telefonei para o Ponto de Cultura Estrela de Ouro. Queria pedir que o Mestre Mário, artesão bordador de golas de caboclo, e também Mestre de um Centro de Jurema, para que ele transmitisse certa informação aos moradores do local. Minha surpresa é que quem atendeu o telefone foi o espírito de Mestre Batista. Pela primeira vez tive uma conversa, via uma das operadoras de telefone celular, com alguém que já havia morrido em 1991. Ainda bem que, como sempre o espírito nada sabia do que estava acontecendo, apesar de pairar sobre o passado e o presente. Mas passado e presente não existem para quem já morreu. É que esse negócio de tempo é conosco, os homens e mulheres que estamos vivendo, que tudo compreendemos e desejamos entender. Para aquilo que nós não entendemos buscamos fazer certas explicações fácies, especialmente se não quisermos usar o cérebro. A maior arte das pessoas prefere utilizar o medo.

Li, esta sexta feira, uma carta de um professor da UFPE, contra a ocupação da reitoria, que alunos da UFPE fizeram. Esse professor denuncia os alunos como fascistas. É até possível que esses alunos o sejam. Mas fiquei sem entender porque esse mesmo professor, em 1993, apoiou os alunos da FAFIRE quando eles invadiram aquela faculdade por causa de aumento na mensalidade (a faculdade poderia estabelecer um aumento de 110% e propôs 65%, os alunos foram contrários: queriam 0%; e receberam o apoio do PT e dos Sindicatos dos Bancários e dos Professores. Ah! também teve uma ONG de defesa dos Direitos Humanos que condenou o vice-diretoe sem ouví-lo. O advogado da referida ONG se fez vereador de Olinda). Além disso, o professor que agora publicou a carta contra os estudantes da Universidade Federal, na época apoiou os estudantes que puseram o vice-diretor da FAFIRE em cárcere privado; mais ainda, o referido professor se recusou a apertar a mão daquele foi vice-diretor da FAFIRE, porque, segundo ele, o vice-diretor seria um fascista por não atender a reivindicação dos alunos. Em 1993 era correto que estudantes invadissem uma vice-diretoria, não permitir que o vice-diretor tivesse acesso ao telefone ou saísse para ir ao banheiro: assim pensava na época o professor, hoje, indignado com a invasão da UFPE. Os se estudantes se insurgem contra alguma medida, são muitos os que se apressam a acusar a juventude.

Como os mais velhos esquecem o que viveram, e condenam-se ao apressarem-se a condenar os mais jovens!

Coisa boa esse negócio de pós-modernidade onde não há lugares para valores essenciais, apenas para aqueles valores que possam ser cambiados segundo os interesses existenciais, ou seja, imediatos, de cada indivíduo, de cada instituição, de cada partido. Fico a pensar se professores sem crença em valores essenciais – permanentes- podem formar para além das circunstâncias, para além das fidelidades econômicas, como a do condomínio, do aluguel da casa e/ou da consciência. Esta última se ainda restar algo parecido.

Nenhum comentário: